sábado, 25 de janeiro de 2014

Madrugada Solitária

Eis que, depois de formatar um dos HDs do meu PC, acabo por encontrar este micro conto que escrevi em setembro de 2010 no HD que restou intacto.
Não podia deixa-lo se perder, portanto, aqui está em "primeira mão", com quase 4 anos de atraso, hehe.
Boa leitura!




Mais uma vez, entrara madrugada adentro.
Depois de um dia repleto de fantasmas modernos: contas, filas de banco, telefones que não silenciam e trânsito caótico, finalmente escutava apenas meus pensamentos em frente a uma tela de computador.
Mais um a noite de insônia, companheira fiel há tantos anos.
O ruim é que ter tempo para pensar muito acaba fazendo com que pensemos muito além do que deveríamos.
Tanto que o silêncio começa a se tornar pesado, criando sons que nos remetem a algo que acaba nos assustando.
Levantei, indo até a geladeira pegar um refrigerante e o breu no apartamento era quase que total, com exceção da luz da tela do PC e alguns fios de luz que vinham dos postes na rua.
Buscava notícias curiosas sobre desaparecimentos de pessoas e ocorrências fora do comum e o interessante é que histórias estranhas brotam aos montes na internet.
Coincidentemente,  um sumiço na cidade onde moro ocorrera há alguns meses: uma mulher, influente na empresa e na sociedade, havia sumido.Sem vestígio algum!
Assim como eu, ela era insone e virava madrugadas tentando manter a lucidez que porventura pode ser perdida pela falta de sono.
Sumiu.Essa palavra martelava minha mente.
Sumir, desaparecer.E sem deixar rastro.O que é mais assustador...
Num mundo onde há tanta gente, acho extremamente estranho alguém sumir sem deixar pistas.
Enfim, há tanta coisa sem explicação mesmo com todo avanço tecnológico que temos hoje.E isso me intriga.
A cidade na madrugada nem parece cidade, parece um planeta deserto onde raras vezes se ouve barulho de motor ou alguns passos na rua de um bêbado qualquer cambaleando.No mais, só o barulho do teclado e dos cliques do mouse.
Ventava forte e as janelas chegavam assoviar .Será que vinha chuva?Atípico para a época mas como o clima anda uma loucura, era possível ocorrer.
Levantei novamente pegar mais refrigerante na geladeira e uma coruja atravessa o vidro da janela, se machucando toda e fazendo com que o vento entrasse com fúria no apartamento.
Há tempos não levava tamanho susto!
Juntei a coruja, a enrolei em um pano.Ela já estava morta.Parecia até que tinha morrido antes de atravessar o vidro.Dei um jeito de fechar a janela com um tampão improvisado e voltei para meu computador.O susto tinha me acordado ainda mais.Minha esperança de consegui dormir ao menos alguns minutos tinha se desfeito.
Não demorou muito e o céu desabou em chuva e raios.
Que ótimo, só faltava acabar a energia e eu ficar até sem computador.
O vento ficou mais forte.A chuva parecia ser jogada de balde.Uma enxurrada daquelas!
Senti mais uma vez o vento dar uma lufada dentro do apartamento.Era o tampão que tinha caído.E para piorar, a chuva entrava junto, ensopando o carpete da sala.Aliás, o carpete parecia ser o alvo prioritário da chuva mas a sala toda já estava molhada.E já que não conseguiria improvisar o tampão de novo enquanto a chuva não parasse, fiz pequenos diques no chão com panos velhos para conter a água.
Nisso, ouvi barulhos no quarto, mais exatamente na janela também.
Só faltava a chuva entrar pelo quarto também aí minha noite de insônia estaria completa!
Já que não tinha muito o que fazer,voltei para o quarto,  sentei em frente ao computador e também liguei a TV para disfarçar o barulho da chuva.Não funcionou muito, a chuva parecia entender meu recado e fez o favor de aumentar ainda mais a intensidade até o momento em que percebi que os diques que havia improvisado já não davam mais conta da situação e meus pés começaram a ficar molhados.
Que maravilha!Sempre quis ter banheira mas não dessa forma.
Eu teria muito trabalho assim que a chuva parasse.
Era cerca de 2 horas quando a chuva resolveu acalmar um pouco me deixando na torcida para que terminasse logo para poder secar tudo.Por sorte (ou falta de um salário melhor) meu apartamento tinha apenas 4 peças então rápido eu resolveria tudo e deixaria seco até a manhã seguinte quando meus primos viessem me visitar, afinal , todo domingo eles vinham me ver.
A chuva e o vento foram embora da mesma forma estranha que surgiram.
Resolvi então me mexer e secar toda bagunça para que tudo estivesse minimamente aceitável pela manhã.E foi aí que minha falta de sono se tornou mais permanente ainda.
Olhei na direção da janela quebrada e estava ali, em pé, um vulto bem mais alto que eu, todo molhado e com respiração difícil que começou a se mover em minha direção.
Eu não tive como correr para fora do apartamento, pois o sujeito estava bem no caminho então corri para o quarto de novo e tranquei a porta o mais rápido que pude ficando em silêncio.Estava apavorado como nunca!
Depois de um breve silêncio, a chuva voltou na mesma hora que fortes pancadas acertavam a porta.Meu coração parecia querer sair pela boca!
Provável questão de tempo até o sujeito achar algum jeito de arrombá –la.E foi o que aconteceu.Minha única opção era sair pela janela e tentar alcançar o apartamento do vizinho.Era loucura, afinal estava no sétimo andar mas foi o que tentei fazer .
Para atrapalhar tudo, a chuva era um grande dilúvio e as paredes do lado de fora pareciam sabão.
Não resisti.
Caí sem ao menos conseguir me segurar em nada, fui vendo os andares passando mais depressa enquanto meu grito ecoava pela rua tão forte quanto os raios.Depois disso, um enorme silêncio...


Abri os olhos assustado.Depois de muito tempo de insônia, consegui dormir só que de brinde havia ganhado um pesadelo.Levantei , indo para a cozinha e tomei um gigantesco susto, quando uma coruja atravessou o vidro da sala.....

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